sexta-feira, março 31, 2006


XXXIV

Há um rio poluído que corre sob os teus pés imóveis.
Tu parada entre restos de sonhos e destroços humanos.
Não há nada a fazer para avivar o rubor da flor esquecida.
Flor vermelha de morte anunciada.

É esta a conclusão do livro. Nesta página o meu pai escreveu a palavra fim. Sem surpresas o pano foi corrido e as luzes do teatro paternal foram progressivamente perdendo o brilho até a escuridão envolver todo o espaço que circunda os olhos.
O quarto negro.
Escolheste o teu túmulo. Foste um homem de sorte.

Paz é a palavra ansiada pelos teus ouvidos podres de pai morto.

Não mais direi o teu nome em vão.

Em nome do Pai, do Filho , E da Dona Irfanha

sexta-feira, março 24, 2006


XXXIII

Hoje na escola aprendi a pontuação. O meu pai morreu, ponto final.
A sua morte deixou-me um livro e reticências...

É importante o livro. Talvez porque o meu pai não o foi. Talvez por ser um ponto de interrogação escrito com os seus próprios dedos. Ou talvez pela conjugação destes dois pontos.

O último capítulo do meu pai fez-me pensar na minha mãe em lágrimas.


Último Aviso do Livro dos Avisos escritos de Pai para Filho.

Olhar para trás e não ver.


É esse o segredo para conseguir viver sem o grito da consciência a furar os tímpanos com lanças de culpa.
Não perguntes nada a um calendário inerte pois a inércia nunca será a resposta correcta, será apenas a resposta que procuras... porque nunca é fácil viver esmagado pelo peso de um elefante.
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