terça-feira, outubro 04, 2005


XXIV

Alguém perguntou um dia: “do meu corpo, qual foi a razão para que a morte e a solidão começassem?” Ninguém lhe respondeu.

Há coisas em nós! Coisas que nos fazem sentir e não são nossas. Coisas que fazemos quando não somos o corpo que conhecemos. A morte. Doença crónica. Nascemos com ela para, um dia, morrermos por ela.
Vivemos para nós próprios, ouviu-se na floresta.

Não há pessoas na floresta mas, para que a guerra chegue à aldeia mais próxima tem que passar por aqui. E quando a atravessar também deixará de haver árvores e bichos na floresta. Deixará de haver floresta na floresta.

Mas, é importante que a guerra chegue à aldeia mais próxima! É importante que pessoas morram para outras sentirem o milagre de estar vivo! É importante que pessoas sejam feitas escravas, para que a liberdade seja uma palavra bonita de dizer.
É sempre importante lutar por uma causa. E quando a causa é uma morte, é importante matar por ela.
Já não me custa matar estranhos, bichos ou amigos. Já me é tão natural como respirar. Encho o peito de ar, aponto a pistola, liberto o ar dos pulmões e uma bala.

É divertida a guerra. Divirto-me a matar como se fosse um menino mau. Hoje matei um porco. Assei-o. Comi-o.
Sou um assassuino, pensei sorrindo.
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