sábado, setembro 17, 2005


XIX

Não há nada que me indique o caminho para a minha aldeia. Nem a brisa. Nem o sol. Nem as plantas. As árvores e os seus ramos apontam para todas as direcções possíveis. Cada ramo que rasga um tronco de árvore, nasce com um objectivo: indicar o caminho de uma vida.. Há milhares de árvores nesta floresta! Milhões de ramos e alternativas!
Só tenho que escolher um e esperar que seja o correcto.
Fecho os olhos. Viro a cabeça para o lado esquerdo do corpo. Abro os olhos devagar. E escolho o primeiro ramo que vejo.
Ali está o ramo que me levará ao meu ninho, pensei sorrindo.
A esperança crescia em mim a cada passo que dava em direcção à direcção profética. Sim profética!! Não são os “profetas” os adivinhos! O que realmente é poderoso e mágico são os seus bastões, as suas bengalas, os seus cajados, os seus paus de caminhante, os seus ramos de árvore-que-aponta-o-caminho.
E a consciência de tudo isso fazia a esperança aumentar de tamanho e de peso! Naquele momento nenhum sentimento era tão relevante como a esperança. Alias nenhum sentimento é relevante quando o não sentimos. Ali era esperança o que sentia! Esperança e a excitação a ela inerente.
Se o futuro bastão do próximo salvador dos hOMENS não se equivocara, depois deste monte, serei capaz de vislumbrar a minha aldeia. E depois a casa da senhora Tápu. O meu pai a percorrer o caminho que une a sua casa à da senhora Tápu. A percorrer a única coisa que de facto os une. Depois a minha casa! Depois Lisa!! A Mãe!!! A flor Vermelha!!!!! Estou tão entusiasmado que quando vejo a aldeia do cimo do monte, o meu peito quase rebenta com a súbita transformação da esperança em radiante certeza!!
Desço o monte a dar cambalhotas! Cambalhotas e gargalhadas! Como um menino pequeno que regressa a casa! Ah! Ah! Ah!




Não ha casa.... Ha chuva! A minha aldeia não é esta!! As pessoas! As ruas! Nada disto é o que é minha aldeia! Não há um pai que seja meu! Nem uma régua que fale! Porquê?
A esperança desaparece como se não houvesse já nada vivo... Os meus olhos enchem-se de água e sal e desilusão. Choro como se a função dos meus olhos fosse chorar! Como se os olhos não servissem para ver. Como se os meus olhos não vissem a minha aldeia e apenas chorassem por ela.


E as minhas lágrimas embatem no solo molhado da aldeia chorosa.
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