quinta-feira, setembro 08, 2005


XIV

O sol, como uma lâmpada brilhante, colidiu com o chão duro. O sol como uma lâmpada dividiu-se em mil estilhaços quando colidiu com o chão. O fio fino e ténue que habita o interior das lâmpadas, o fio que é a fronteira entre a Luz e as Trevas quebrou-se com a violência do impacto e desapareceu na escuridão.
Com a queda do sol, a Noite caiu na Terra.

Aqui no escuro da floresta, sinto-me desconfortável porque me sinto só. Chego mesmo a sentir que o desconforto é a tristeza antes de o ser. Sabes Lisa, acho que hoje senti a palavra grande e má que um dia sublinhaste. E senti essa palavra, a solidão, como a primeira pedra de uma calçada comprida que vou ter que percorrer para ser crescido e triste... para ser uma pessoa.

Apeteceu-me gritar os nomes dos responsáveis pela minha solidão! Se vocês não existissem eu nunca saberia o que era estar na vossa ausência... Mas não gritei.

A solidão é uma coisa surda, diria Lisa.
Senti a tristeza a invadir-me.
Sem ti, Lisa, senti a tristeza. Sem ti, Mãe, senti a tristeza. Sem ti, pai, senti a tristeza. Sem vós... senti-me rouco.

Hoje, no escuro solitário da floresta, reparei numa gota que me escorria pela cara. Uma gota que deslizara até ao queixo e se precipitara para o espaço vazio. Uma gota que colidiu com o chão duro e desapareceu na escuridão.

Hoje, cresci uma lágrima.
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