sábado, agosto 27, 2005



IV

Hoje à noite, fui descobrir a Lisa a medir palavras no quarto dos livros. O quarto dos livros é iluminado por uma lâmpada presa no tecto, sem candeeiro sem nada. Só a lâmpada a iluminar o centro do quarto. A iluminar Lisa e um livro aberto. A gravidade de uma campa vazia era o rosto de Lisa no momento em que eu entrei. Fiz uma descoberta fantástica, disse ela num sussurro. Aproximei-me dela e vi que haviam palavras sublinhadas entre a imensidão de palavras por sublinhar. O que são?, perguntei. São palavras às quais as pessoas crescidas dão significado. Vês esta? É o amor. Esta é a solidão. Esta é a loucura. Esta é a paz. Esta é ... enquanto ela lia as palavras sublinhadas, eu matutava. Porque é que o amor é tão pequeno?, perguntei, A palavra que quer dizer amor! Porque é que é tão pequena? Passaria completamente despercebida aí, no meio das outras. Foi por isso que resolvi sublinhar palavras, disse, a sempre sábia, Lisa, depois resolvi medi-las. Sabes cheguei à conclusão que o tamanho de cada palavra é directamente proporcional à sua quantidade no mundo. Se uma palavra tem mais que 4 letras então o seu significado é sentido com alguma frequência pelas pessoas crescidas. Quantas mais letras tiver a palavra mais ele é sentido! Então mas e o amor? e a paz? São coisas boas não são? Porque é que as pessoas crescidas fizeram as palavras boas tão pequenas? É por culpa das pessoas crescidas que não há mais paz nem mais amor no mundo!!! Tens tanta sorte em seres apenas uma régua, Lisa...
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