quinta-feira, setembro 08, 2005


XV

O dia ergueu-se, como em todos os dias. O sol não se ergueu com o dia. O dEUS, ocupado com a insignificância dos sonhos do hOMEM, esquecera-se de trocar a lâmpada do candeeiro do céu. O dia estava mais negro que a noite. De noite há a lua e as estrelas. De dia, se não há sol, não há nada. E o nada é escuro.

No entanto havia uma luz na floresta. Uma luz vermelha e intermitente. A luz quente de uma fogueira. À volta da fogueira, sentado no chão, estava um velho bêbado e feliz. Ele era feliz porque era bêbado. Eu falei com ele porque era velho.
Sabes rapaz, disse o feliz, para teres uma mulher que te ame, tens que saber “lá ir”. E eu sei “lá ir”. Eu tenho uma mulher que me ama. Eu sei o que é o amor. Ao ouvir a palavra amor nada mudou em mim. Lembro-me que quando o meu pai dizia: Preciosa, eu amo-te, havia tremores de terra na aldeia. Não só a minha mãe estremecia, como todas as pedras o faziam. Ali.. Nada... Os bêbados retiram a importância ás palavras, pensei. As palavras dos bêbados, quando abandonam a sua boca perdem a coisa que de mais precioso têm... o significado.

Um bêbado fala e a palavra não diz nada.
Um bêbado fala e polui o ar com as suas palavras mortas e o seu hálito de morto.

Pobre velho bêbado e feliz.

Se o que dizes é verdade, não tens uma mulher que te ama.
Tu tens um buraco que fala.
Counter
Counter