sábado, setembro 10, 2005


XVI

Eram horas da noite começar.
Eu fechei os olhos e pedi ao dEUS para que ligasse o candeeiro do céu.

Há coisas que, por ser um menino pequeno, gostaria que fossem diferentes daquilo que são.

A noite é uma delas.
As estrelas são tão bonitas, dizia muitas vezes para a minha régua, a lua é tão mágica tão viva! È uma pena serem horas da noite começar quando finalmente as coisas bonitas nascem no céu. È uma infeliz coincidência serem horas de dormir quando são horas da noite começar. Para quê criar tamanho espectáculo visual se não há ninguém com os olhos abertos quando chegam as horas da noite?
Mesmo que alguém tente resistir ao peso da escuridão sobre as pálpebras, não o consegue fazer durante muito tempo. Há coisas tão belas que não lhes são permitidos olhares demorados. Se a Lisa aqui estivesse diria que o sono é censura ao serviço de dEUS.

Aposto que no momento em que fechamos completamente os olhos e perdemos parcialmente a consciência, nesse momento único de uma demência dormente, o espectáculo celestial começa.
Aposto que todas as coisas visíveis no céu deixam de estar paradas no momento em que deixamos de estar acordados. Todas as longínquas bolas de fogo transformam-se em bonitas bolas de fogo e de arte.
Há um grande fogo de artificio universal quando juntamos as pálpebras!!
Dizem mesmo que o universo nasceu da beleza e da força de um fogo de artifício.

Acho que é por isso que o dEUS criou o sono. Para nos impedir de criar um universo nosso e real.
Para nos iludir, o sono criou o sonho. Podemos criar universos inteiros com foguetes e tudo. Mas o acordar transforma o tudo em nada tão depressa que até a memória do tudo, surpreendida, se deixa transformar em nada...

É por isso que acho que o dEUS é mau. E se o dEUS é mau é porque é um hOMEM.

dEUS é o hOMEM que não dorme...
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