segunda-feira, setembro 19, 2005


XX

Eu estou triste. No entanto é possível ser feliz na aldeia Chorosa. As pessoas não choram porque estão tristes. As pessoas choram porque são pessoas.
Os cães não choram na aldeia chorosa porque os cães não choram. Eu choro.
Lembro-me das palavras pequenas e das palavras grandes. Aqui não existem palavras. Para que queremos palavras quando temos lágrimas?! Quando choramos não queremos falar com ninguém. Não é preciso falar quando se chora porque é mais fácil sentir lágrimas do que palavras. As palavras são coisas tão estúpidas e invisíveis para quem é pequeno e não sabe ler. Nem escrever. As lágrimas, por seu lado estão lá! São reais!!
A minha aldeia é real e eu quero ser dentro dela. Quero aprender a ler e a escrever! Quero saber porque escrevem os artistas! Com que lágrimas pintam os poetas?

Uma senhora idosa aproxima-se de mim. Não fala. Chora lágrimas que lhe secam o corpo. Chora lágrimas de vida. A vida sai do corpo velho daquela senhora idosa e cava trincheiras na sua cara. As lágrimas cavam a as trincheiras no seu rosto. Estamos em guerra, diria, desde o momento que nascemos lutamos para que sintamos a morte. Lutamos todos os dias para que o dia da morte seja um dia mau! Terrível!! Horripilante!!! Para que não seja só mais um dia do mundo! E eu estou viva! Vês estas rugas na minha cara? Estão por todo corpo!! É impressionante não é? Elas provam que estou viva! Vivo todos os dias desde o dia em que nasci! É impressionante não é?

És uma velha. Quando for grande quero ser como tu! Um velho.

Um velho que viveu todos os dias desde o dia em nasceu uma pedra.
Mais importante: Um velho que VIVEU TODOS OS DIAS.
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