terça-feira, outubro 11, 2005




XXVI

Leitura da primeira Carta aos Guerrilheiros


Existem fantasmas.
Hoje, os fantasmas de ontem atormentam as horas.
Há fantasmas dos quais não nos lembramos. Que não associamos a um pesadelo.
Mas eles existem.
Assombram-nos de forma quase imperceptível. Só o mau estar. Só a sensação imprecisa de qualquer coisa debaixo da nossa pele. Nada mais.
Os fantasmas discretos fazem cócegas que incomodam, disse um dia Lisa.

Os fantasmas existem. São algo que fica de alguém que se vai. São o que fica e fica a mais. Já matei pessoas na guerra. Aqueles que matei não me deixaram nada. Porque haviam de o fazer?! Eu era apenas um menino! Não havia qualquer ligação emocional entre nós. Apenas o respeito que um predador tem pela sua presa.
No entanto, aqueles a quem apunhalamos o coração para que não bata.
Para que não nos bata mais. Esses sim, assombram-nos com a sua partida porque nunca partem verdadeiramente.

Os fantasmas existem. Não à nossa volta. Mas dentro de nós. Assombramo-nos com memórias falsas. Nada foi realmente da forma que te recordas. Só tu existes, quem morre não existe em ti.. Existirá sempre a tua recordação de quem não existe. Mas é tua!
Pode ser doce se assim o quiseres.


Que se lixe o fantasma da senhora Tápu!!!! Que se lixe o fantasma do meu pai!!!
A partir de hoje as cócegas serão motivo de riso!
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